No texto de hoje, trago uma questão já batida em
Linguística (e também já bastante comentada nos meios de divulgação de
Linguística). Aqui no blog, já toquei neste assunto aqui e aqui. No entanto, é
sempre preciso voltar ao debate, tanto porque é contra uma ideologia poderosa
que temos de argumentar (e ela não vai desaparecer tão cedo) quanto por se
tratar de um assunto de que quase todo mundo gosta de ouvir: o preconceito
linguístico.
Como verão, nesta postagem vocês vão encontrar uma
discussão informal, retirada de um fórum no FB sobre o preconceito linguístico.
O mote foi levantado por uma pessoa de curso superior em Engenharia Mecânica e
as réplicas e tréplicas, além de envolverem o próprio criador do tópico, são
tecidas por pessoas também de formação universitária, sendo dois deles
linguistas (menciono suas formações para deixar evidente quais discursos sobre
língua circulam entre os sujeitos).
Mantenho o anonimato do criador do tópico (a quem
identifico pela sigla JM), como também de alguns outros membros do fórum para
dar enfoque à ideia (e não ao indivíduo – até porque o sujeito dessa ideia
poderia ser qualquer José, João, Giberto). Por outro lado, mantenho o nome dos
linguistas, Jefferson Voss e Jiquilin, para dar crédito à autoria dos
conteúdos.
Como perceberão, o preconceito linguístico sempre
deve ser trazido à baila, já que 35 pessoas curtiram o post linguisticamente preconceituoso
e mais uma porção de gente fez comentários de mesmo tom.
Boa leitura!
MOTE
Post educativo 1:
1) A abreviaçao (sic) de "horas" é SEMPRE apenas "h", independente se sao (sic) 300.000 horas. O certo é 300.000 h, certo, pessoal?
2) Se vc (sic) pensa em utilizar "mas" ou "mais" na sua frase, pense antes de utilizar qualquer um deles. Se puder substituir por porém, deve-se utilizar mas, nos outros casos, o correto é mais.
Exemplos:
- "Gostaria de estar em casa, () estou longe." Neste caso, pode-se utilizar porém que a frase continua perfeita, entao (sic) o correto é "mas", isto é, "Gostaria de estar em casa, mas estou longe".
- "Estive () tempo lá." Neste caso, nao pode-se (sic) utilizar porém que a frase fica sem sentido, entao (sic) o correto é "mais", isto é, "Estive mais tempo lá."
Vou fazer um post educativo toda sexta para colaborar com o português dos meus amigos. E nao to (sic) julgando ninguém. Eu tive a oportunidade de aprender bem português e quero compartilhar esta oportunidade com quem nao (sic) teve.
Teh (sic) o post da próxima sexta.
BOM DIAAAAAAAA!!!!
1) A abreviaçao (sic) de "horas" é SEMPRE apenas "h", independente se sao (sic) 300.000 horas. O certo é 300.000 h, certo, pessoal?
2) Se vc (sic) pensa em utilizar "mas" ou "mais" na sua frase, pense antes de utilizar qualquer um deles. Se puder substituir por porém, deve-se utilizar mas, nos outros casos, o correto é mais.
Exemplos:
- "Gostaria de estar em casa, () estou longe." Neste caso, pode-se utilizar porém que a frase continua perfeita, entao (sic) o correto é "mas", isto é, "Gostaria de estar em casa, mas estou longe".
- "Estive () tempo lá." Neste caso, nao pode-se (sic) utilizar porém que a frase fica sem sentido, entao (sic) o correto é "mais", isto é, "Estive mais tempo lá."
Vou fazer um post educativo toda sexta para colaborar com o português dos meus amigos. E nao to (sic) julgando ninguém. Eu tive a oportunidade de aprender bem português e quero compartilhar esta oportunidade com quem nao (sic) teve.
Teh (sic) o post da próxima sexta.
BOM DIAAAAAAAA!!!!
Por: JM
COMENTÁRIOS
NOTA: seguem os comentários.
Tudo sic!
PL:
Que
bonitinho esse menino, gente ♥
RC: ISSO
É O QUE MAIS DÓI DE OLHAR: "
2) Se vc
pensa em utilizar "mas" ou "mais" na sua frase, pense antes
de utilizar qualquer um deles. Se puder substituir por porém, deve-se utilizar
mas, nos outros casos, o correto é mais."
GV: Então
sempre tive dúvida em quando usar MENOS e MENAAAAS! me esprica? #não resisti =P
JM: Hahahahaha,
GV, quem sabe esse nao seja o post da semana que vem, hahaha!
GV: ah,
MAIS daí o post vai ficar muito fácil! XD
MK: Adorei
q ideia! Aprovadissima! Vc arrasa sempre! Nossos olhos agradecem! Hahaha Ideia
para o proximo post: ensina o povo a escrever COM CERTEZA? Hehehe
ON: Muito
boa iniciativa, espero que muitos aprendam. Apenas não escreva MAIS (rs)
"nao pode-se utilizar", porque com advérbio sempre se usa próclise.
Portanto, o correto é escrever "não se pode utilizar".
JM: Arrasou,
ON, vou me concentrar mais no próximo post, haha!
Eu nao me
fixei nisso tudo, só escrevi e nem revisei, da próxima me esforçarei para que
nao haja pequenos deslizes.
TC: Poxa
gente, sem exageros também né? Eu concordo com o mas e mais, mas não precisamos
ser tão ditadores com respeito a língua.
Lembremos Oswald de Andrade:
Pronominais
Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro
Oswald de Andrade
(1890-1954)
Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro
Oswald de Andrade
(1890-1954)
JM: TC,
eu estou de acordo. Eu nao estou sendo tao normativo, sao coisas simples que
podem ajudar em provas e concursos, inclusives. E eu entendi o que o ON quis dizer...
Nao custa ter mais cuidado.
ON: Ontem
eu li um "dês de já". Fiquei traumatizado.
FA: Arrasou.
Dica para proximos posts: Agente e a gente. HAHAHAHAH
TC: Na
verdade essas são discussões muito recorrentes entre linguistas. Eu estava
lendo um texto do Ferreira Gullar esses dias sobre isso. Existem aberrações
linguísticas que precisam ser corrigidas como nos casos de "ancioso"
ou o "dês de já", "mas" e "mais". Só não podemos
esquecer que a língua é versátil e flexível e, no final das contas, é feita
pelos falantes. A gramática é resultado da língua e não o contrário. Enfim, é
preciso ter mais cuidado sim, mas eu comentei mais pra dizer que a coisa não
precisa ser tão restrita. Se todos seguíssemos a gramática à risca não não
teria existido gênios como Guimarães Rosa dentro da nossa literatura. :D
JM: E eu
sei disso,TC, a idéia é apenas fazer posts sobre esses erros mais recorrentes,
que sao fáceis de aprender.
PT: muiiitooo
beeeem, JM!! Aí sim !! Sem falar dos: "derrepente",
"concerteza", "de mais" ... tempo de verbo, tipo: "eu
assistir ontem" ou "eu vou assisti amanhã" !!
Tanta coisa q dói ... =/
Tanta coisa q dói ... =/
TC: Sim,
sim JM eu entendi a ideia e dou total apoio. Só decidi fazer uma ressalva sobre
possíveis exageros. No mais eu tenho uma sugestão: "tem" e
"têm", "vem" e "vêm". Vejo que quase ninguém
utiliza esse acento pra distinguir o singular do plural desses dois verbos.
Muitos nem sabem mesmo que existe essa distinção, outros pensam que esses acentos
desapareceram com o a reforma ortográfica, o que não é verdade. :D
ON: Acho
que fui mal interpretado. Eu entendi que o intuito das dicas do JM é mesmo
esclarecer os erros mais gritantes que ocorrem nas redes sociais. Mas eu também
acredito que posts com caráter de correção gramatical devem, sim, obedecer à
norma padrão, mesmo no Facebook. Pra mim, passa muito mais credibilidade.
Minha intenção foi só dar uma dica de como poderiam ser escritos os próximos posts, não dar um puxão de orelha, até porque o JM é exímio escritor, que certamente já sabe a regra que eu postei e que deve saber mais sobre gramática do que eu. E eu concordo com tudo que você escreveu, TC. Acho até que as aulas de Português deveriam trocar um pouco essa visão purista e alienada da norma por uma visão mais flexível de quem já conhece a Língua que fala. Mas enquanto isso não acontece, né...
Minha intenção foi só dar uma dica de como poderiam ser escritos os próximos posts, não dar um puxão de orelha, até porque o JM é exímio escritor, que certamente já sabe a regra que eu postei e que deve saber mais sobre gramática do que eu. E eu concordo com tudo que você escreveu, TC. Acho até que as aulas de Português deveriam trocar um pouco essa visão purista e alienada da norma por uma visão mais flexível de quem já conhece a Língua que fala. Mas enquanto isso não acontece, né...
ED: Faz
uma explicando quando se usa MIM e EU, por favor!
RM: Não
se esqueça do "nada haver" e "tem haver" que fazem doer os
olhos, e nem do "seje". Ah, subjuntivos também são problemáticos pra
esse povo!
Jefferson
Voss: Olha, Jiquilin, mas um Pasquale pra "salvar" o mundo... rs
JM: Eu
nao quero "salvar" nada, Jeff! Dica.
Já deixei
clara a minha intençao com esse post.
Just
this: "Vou fazer um post educativo toda sexta para colaborar com o
português dos meus amigos. E nao to julgando ninguém. Eu tive a oportunidade de
aprender bem português e quero compartilhar esta oportunidade com quem nao
teve"
;)
Jiquilin:
Vou criar posts todas sextas sobre motores, pra educar meus amigos motoristas.
Semana que vem o post vai falar de ignição.
JM: Olha,
Jiquilin, é bem provável que vc saiba bem mais de motores do que eu, já que a
Engenharia Mecânica (assim como a maioria dos cursos) é bem ampla e eu nao
escolhi me especializar nessa área. Trabalho com próteses e implantes, que
olha, de motores e igniçao nao tem nada.
Ahh, e mais, o facebook é livre e vc pode falar sobre o que vc bem entender! Se essa é a sua vontade, siga em frente.
Só quero que vcs entendam que nao me formei em letras e nem quero obrigar nada e nem ninguém a aprender nada. Lê quem quer, aceita quem quiser. Só nao gosto de ironias num post em que eu fiz com boa intençao e sem a intençao de ofender ninguém. Aliás, como tudo que faço na vida. Faço para viver bem, e nao para ofender ninguém. E se tenho qualquer espécie de problema, eu chego e discuto (no bom sentido, de uma discussao entre pessoas civilizadas) a minha opiniao divergente a respeito de qualquer assunto.
Everybody is free!
Só isso!
;)
Jefferson
Voss: JM, tenho problemas com esse post e, como você mesmo sugeriu que
fizéssemos, quero discuti-lo. Tentarei ser curto e grosso (sem ser tão
grosso...) (e já adianto que não conseguirei ser curto: impossível para uma
questão tão delicada como essa (agora que acabei de escrever, percebi que
escrevi um artigo de 5 páginas... risos)).
Você não faz a mínima ideia a respeito do quanto esses “pitacos” leigos na área alheia são um desserviço total para tudo o que tal área (com seu um milhão de pesquisas anuais) luta pra tentar desconstruir.
Você não faz a mínima ideia a respeito do quanto esses “pitacos” leigos na área alheia são um desserviço total para tudo o que tal área (com seu um milhão de pesquisas anuais) luta pra tentar desconstruir.
E lidar
com uma ciência próxima das humanas abordando um objeto que todo mundo usa
durante todo o tempo e para tudo (a língua, as linguagens...) só pode resultar
isso mesmo: já que todo mundo usa a língua, todo mundo se imagina especialista
nela.
Você falou uma grande verdade: você não fez Letras e não é especialista na área. Em outras palavras: você não sabe bulhufas daquilo que se discute em Linguística Aplicada a respeito de COMO a norma padrão da língua precisa ser ensinada para que o ensino não resulte simplesmente uma amontoação de normas dizendo o que é CERTO e o que é ERRADO (é o chamado ensino normativo de gramática normativa e, eu acrescento, por pessoas normativas (infelizmente, é o que você fez)).
Você falou uma grande verdade: você não fez Letras e não é especialista na área. Em outras palavras: você não sabe bulhufas daquilo que se discute em Linguística Aplicada a respeito de COMO a norma padrão da língua precisa ser ensinada para que o ensino não resulte simplesmente uma amontoação de normas dizendo o que é CERTO e o que é ERRADO (é o chamado ensino normativo de gramática normativa e, eu acrescento, por pessoas normativas (infelizmente, é o que você fez)).
No
Brasil, já faz um bom tempo (desde a década de 1980 mais ou menos, ou até antes
disso) que tudo quanto é especialista da área tenta reorganizar o ensino de
língua materna para que os professores sejam formados a partir de outra
concepção de língua e gramática: uma concepção interacionista (baseada na
gramática internalizada) que prevê, SIM, que a norma culta deva ser ensinada,
mas que procura meios de ensinar a norma culta em contraste com as outras
inúmeras variedades linguísticas. E o negócio é tão difícil de ser resolvido
que, até hoje, o ensino lá nas escolas continua praticamente do mesmo jeito.
A
concepção mais comum de língua e de gramática que existe (e, portanto, a leiga,
ou seja, aquela do senso-comum que constitui você como indivíduo) é aquela que
prevê a língua como um sistema de signos imutáveis que deve ser mantido e
reproduzido e a gramática na condição de um conjunto de regras do “bem-falar”,
do “bem-dizer” (do falar “bonito”, do escrever “bonito”). Outro ponto
importante dessa concepção de língua é a herança cultural que ela perpetua:
herança segundo a qual quem fala “bem” e escreve “bem” (esse “bem” entre muitas
aspas) é aquele que “pensa bem”. No ensino e na vida cotidiana, isso acarreta
atos discriminatórios: quem utiliza melhor a norma padrão é inteligente
(cognitivamente superior), já quem não a utiliza é burro (cognitivamente
inferior). A Linguística Aplicada tem um nome para isso: preconceito
linguístico. Há, inclusive, uns livrinhos bem fáceis de ler que mostram como a língua (e as políticas linguísticas) é um
mecanismo de dominação e de segregação cultural. É só procurar por Marcos
Bagno, Maurício Gnerre, Irandé Antunes, Mario Perini, João Wanderlei Geraldi,
Sírio Possenti etc. A lista de pesquisadores brasileiros que
se dedicam só a estas questões é enorme!
Nós,
professores e pesquisadores das ciências da linguagem, temos feito de tudo para
que as coisas não se resolvam somente na base do “isso é certo, aquilo é
errado”. Temos explicado, muitas e muitas vezes, fenômenos como o uso do “mais”
a despeito do “mas”. E, mais que isso, temos tentado mudar as condições de
ensino e estimular a apreensão de outras concepções de língua, linguagem e
gramática que não gerem práticas de segregação e que não resolvam tudo na base
do “Vê se aprende o jeito certo!”.
Dessa forma, incomoda (e muito mesmo, você não faz ideia o quanto...) qualquer um postando qualquer coisa (e ainda de uma posição de dominação/superioridade) sobre o que fazer e não fazer com a língua. Sabe qual é o pior de tudo? Você não é o único e, tampouco, é o culpado por isso. Você é condicionado histórica e ideologicamente a viver essa concepção de língua/linguagem/gramática. E boa parte dos brasileiros (praticamente todos) também o é. Não é à toa que muitas pesquisas revelam que a maioria dos brasileiros não admite que fala língua portuguesa (porque acham que língua portuguesa é outra “coisa”, aquela “coisa” que está naqueles “livros grossos com um monte de regras”) e, pior, a grandíssima parte do nosso povo simplesmente insiste em dizer que “português é difícil!” (mesmo falando português desde o berço!!!). As perguntas que ficam são: se esse português é difícil, de que “português” se está falando? Quais processos históricos de distribuição de saberes tornou esse português “difícil”?
Você não ofendeu ninguém, isso é fato (não me sinto ofendido com a falta de (in)formação das pessoas. Sou professor, preciso justamente educar). Mas você reproduziu muita coisa que, se soubesse um pouquinho da dificuldade que temos para lidar com essas questões e tentar revertê-las, nunca teria reproduzido, porque sei que você tem bom-senso. A intenção foi boa, mas, como diz o velho ditado: “De boas intenções, o inferno está cheio”. Gostaria até de alterar a fórmula e a especializar: “De boas intenções sobre a língua, nossos ouvidos (de linguistas) estão cheios (“cheios” no sentido de “fartos”)”, já que todo mundo acha que pode dar opinião sobre o que ensinar e como ensinar quando o assunto é língua (lembra da polêmica do “Livro do MEC” ano passado?).
Dessa forma, incomoda (e muito mesmo, você não faz ideia o quanto...) qualquer um postando qualquer coisa (e ainda de uma posição de dominação/superioridade) sobre o que fazer e não fazer com a língua. Sabe qual é o pior de tudo? Você não é o único e, tampouco, é o culpado por isso. Você é condicionado histórica e ideologicamente a viver essa concepção de língua/linguagem/gramática. E boa parte dos brasileiros (praticamente todos) também o é. Não é à toa que muitas pesquisas revelam que a maioria dos brasileiros não admite que fala língua portuguesa (porque acham que língua portuguesa é outra “coisa”, aquela “coisa” que está naqueles “livros grossos com um monte de regras”) e, pior, a grandíssima parte do nosso povo simplesmente insiste em dizer que “português é difícil!” (mesmo falando português desde o berço!!!). As perguntas que ficam são: se esse português é difícil, de que “português” se está falando? Quais processos históricos de distribuição de saberes tornou esse português “difícil”?
Você não ofendeu ninguém, isso é fato (não me sinto ofendido com a falta de (in)formação das pessoas. Sou professor, preciso justamente educar). Mas você reproduziu muita coisa que, se soubesse um pouquinho da dificuldade que temos para lidar com essas questões e tentar revertê-las, nunca teria reproduzido, porque sei que você tem bom-senso. A intenção foi boa, mas, como diz o velho ditado: “De boas intenções, o inferno está cheio”. Gostaria até de alterar a fórmula e a especializar: “De boas intenções sobre a língua, nossos ouvidos (de linguistas) estão cheios (“cheios” no sentido de “fartos”)”, já que todo mundo acha que pode dar opinião sobre o que ensinar e como ensinar quando o assunto é língua (lembra da polêmica do “Livro do MEC” ano passado?).
Seu post
é educativo? Depende de quem o lê (sorte sua que a grande maioria dos seus
amigos no FB não tem formação na área de Linguística Aplicada ao Ensino de
Língua Materna e, infelizmente, comungam da mesma concepção de gramática que
você...).
O FB é livre e se pode publicar o que bem entender? Falou pouco e falou tudo: o que BEM entender. Sinceramente, achei que você entende muito pouco. Tão pouco a ponto de só reproduzir o que toda pessoa “privilegiada” (porque aprendeu a norma padrão...) e intrinsecamente normativa reproduz: “escreva isso e não escreva aquilo”, “fale isso e não fale aquilo”, “faça CERTO e não faça ERRADO”, “seja INTELIGENTE, não seja BURRO”.
Everybody is free? De “free” essa posição que você defende em relação aos usos da língua não tem absolutamente nada: é a mais opressora, a mais batida, a mais etnocêntrica, a mais normativa e normatizadora e a mais alienada de todas.
Também não posso deixar de dizer que tenho a tendência a achar esse tipo de atitude um tanto quanto egoísta, egocêntrica e etnocêntrica: são pessoas que realmente sofrem ao serem obrigadas a lidar com as diferenças; realmente dói quando veem um “mais” aparecer onde DEVERIA POR LEI estar escrito “mas”. O que essas pessoas não entendem (ou fazem questão de não querer entender) é que: 1) o enunciado com “mais” no lugar de “mas” é efetivamente comunicativo (todo mundo que ler vai entender); 2) a pessoa que escreveu não conhece a “norma cristalizada pela gramática normativa”, mas conhece muito bem determinações fonológicas da língua que fala desde criança; 3) e, por não conhecer a norma e conseguir efetivamente se fazer entender, a pessoa está literalmente “cagando e andando” para aquilo que dói nos ouvidos normativos.
Outra coisinha: muito cuidado ao falar em “colaborar com o português dos meus amigos” e “eu tive a oportunidade de aprender bem português”!!! De que português você está falando? Acho que está falando da variedade padrão do português na modalidade escrita... Tanto que corto um braço meu se você também não pronuncia (utilizando a modalidade oral da língua) “mais” ao falar “mas”. Duvido muito mesmo que não o faça!
O FB é livre e se pode publicar o que bem entender? Falou pouco e falou tudo: o que BEM entender. Sinceramente, achei que você entende muito pouco. Tão pouco a ponto de só reproduzir o que toda pessoa “privilegiada” (porque aprendeu a norma padrão...) e intrinsecamente normativa reproduz: “escreva isso e não escreva aquilo”, “fale isso e não fale aquilo”, “faça CERTO e não faça ERRADO”, “seja INTELIGENTE, não seja BURRO”.
Everybody is free? De “free” essa posição que você defende em relação aos usos da língua não tem absolutamente nada: é a mais opressora, a mais batida, a mais etnocêntrica, a mais normativa e normatizadora e a mais alienada de todas.
Também não posso deixar de dizer que tenho a tendência a achar esse tipo de atitude um tanto quanto egoísta, egocêntrica e etnocêntrica: são pessoas que realmente sofrem ao serem obrigadas a lidar com as diferenças; realmente dói quando veem um “mais” aparecer onde DEVERIA POR LEI estar escrito “mas”. O que essas pessoas não entendem (ou fazem questão de não querer entender) é que: 1) o enunciado com “mais” no lugar de “mas” é efetivamente comunicativo (todo mundo que ler vai entender); 2) a pessoa que escreveu não conhece a “norma cristalizada pela gramática normativa”, mas conhece muito bem determinações fonológicas da língua que fala desde criança; 3) e, por não conhecer a norma e conseguir efetivamente se fazer entender, a pessoa está literalmente “cagando e andando” para aquilo que dói nos ouvidos normativos.
Outra coisinha: muito cuidado ao falar em “colaborar com o português dos meus amigos” e “eu tive a oportunidade de aprender bem português”!!! De que português você está falando? Acho que está falando da variedade padrão do português na modalidade escrita... Tanto que corto um braço meu se você também não pronuncia (utilizando a modalidade oral da língua) “mais” ao falar “mas”. Duvido muito mesmo que não o faça!
Mais uma
outra coisinha: a questão de adequação é tudo! A gente precisa aprender a
variedade padrão somente para alguns gêneros textuais. Por isso mesmo é que
você não acentuou boa parte das palavras que escreveu em seu post e em seus
comentários (ironicamente, você acentuou “ideia”, um exemplo do tal ditongo
aberto das paroxítonas que não precisaria ser acentuado depois do acordo
ortográfico). Não as acentuou porque se trata do gênero post e comentário em
redes sociais: as condições sociais de emergência e uso do gênero definem a
adequação linguística. Lá na sua tese de doutorado, você terá o dever de
acentuar tudo, não é mesmo?
Espero
ter sido bastante educativo também!
PS: o
advérbio “mais” e a conjunção “mas” possuem a mesma pronúncia na modalidade
oral da Língua Portuguesa falada no Brasil. A possibilidade de explicação que
eu levantaria para esse fenômeno linguístico (o Jiquilin deve ter uma
explicação bem melhor, já que ele é foneticista...) é que se trata da “lei do
menor esforço”: na pronúncia de “mas”, a passagem do fonema vocálico aberto e
central /a/ para o fonema consonantal constritivo fricativo /s/ é bastante
dificultosa. Para suprir essa dificuldade de pronúncia (tente pronunciar “mas”
ao pé da letra pra ver como é difícil e esquisito!) aparece a semivogal /i/ pra
fazer essa ponte entre os sons. Não sou especialista em fonética/fonologia, mas
já é uma hipótese que explica um pouquinho mais que uma determinação de regra
ortográfica... E, vale lembrar, essa diferença entre “mas” e “mais” só aparece
na escrita. É somente uma questão ortográfica, ou seja, ao ensiná-la, não
estamos ensino português para os coleguinhas: estamos ensinando ortografia.
PS (2):
“não pode-se”: a minha hipótese, como linguista, é que se trata de mais um dos
casos corriqueiros do que chamamos “hipercorreção”, ou seja, a correção em
excesso. Isso ocorre quando o falante sofre uma grande coerção do aparelho
ideológico que a gramática normativa representa. Nesses casos, o falante tende
a hipercorrigir seus enunciados, levando ao extremo até as exceções às regras.
É o caso, por exemplo, em que se pronuncia “adevogado”, ao se entender que todo
/i/ é um “erro” e que deveria ser trocado por /e/. Já que a ênclise é
culturalmente, no português, vista como mais “chique” e mais “português” que a
próclise, o povo acaba atropelando o fato de que algumas partículas exigem (na
norma padrão do português culto na modalidade escrita) a próclise. Só falta
aparecer gente falando “orobo” ao invés de “urubu”, já que o /u/ também costuma
ser entendido como um “erro” de pronúncia... risos!
Textos de
Sírio Possenti que são ótimos sobre essas questões:
Jiquilin:
Oi, JM,não é nada pessoal contra vc. Não fique bravo com a minha ironia. O
que a gente combate é uma ideia, um pensamento e nunca uma pessoa, pq
entendemos, como o Jef ja falou, que certas ideias estao condicionadas
historicamente. Então é a ideia que combatemos. Eu acho otimo quando estas
coisas acontecem pq vejo como uma oportunidade de nós, linguistas, falarmos da
nossa área.
Jefferson Voss: Me senti
(senti-me???) tentado a
publicar só esse trechinho do livro Preconceito Linguístico, do Marcos Bagno,
para que vocês fiquem com vontade de ler. Esse é o trecho que mais me arrepia e
que aparece logo na introdução:
"Você sabe o que é um igapó? Na Amazônia, igapó é um trecho de mata inundada, uma grande poça de água estagnada às margens de um rio, sobretudo depois da cheia. Parece-me uma boa imagem para a gramática normativa. Enquanto a língua é um rio caudaloso, longo e largo, que nunca se detém em seu curso, a gramática
normativa é apenas um igapó, uma grande poça de água parada, um charco, um brejo, um terreno alagadiço, à margem da língua. Enquanto a água do rio/língua, por estar em movimento, se renova incessantemente, a água do igapó/gramática normativa envelhece e só se renovará quando vier a próxima cheia. Meu objetivo atualmente, junto com muitos outros linguistas e pesquisadores, é acelerar ao máximo essa próxima cheia..."
Ai, é maravilhosa essa metáfora!
"Você sabe o que é um igapó? Na Amazônia, igapó é um trecho de mata inundada, uma grande poça de água estagnada às margens de um rio, sobretudo depois da cheia. Parece-me uma boa imagem para a gramática normativa. Enquanto a língua é um rio caudaloso, longo e largo, que nunca se detém em seu curso, a gramática
normativa é apenas um igapó, uma grande poça de água parada, um charco, um brejo, um terreno alagadiço, à margem da língua. Enquanto a água do rio/língua, por estar em movimento, se renova incessantemente, a água do igapó/gramática normativa envelhece e só se renovará quando vier a próxima cheia. Meu objetivo atualmente, junto com muitos outros linguistas e pesquisadores, é acelerar ao máximo essa próxima cheia..."
Ai, é maravilhosa essa metáfora!
Gostei bastante desse post, principalmente por estar no primeiro semestre de linguística, e me esforçando pra largar a normatividade à qual fui condicionada em todos os meus anos escolares... Estou sendo reeducada sobre a língua, e acho que esse é o passo mais importante para qualquer pessoa antes de dar qualquer opinião apressada: sair da sua "zona de conforto" e investigar se o que você aprendeu (ou "engoliu" por vários anos) é realmente a maneira única e correta de se observar algo. Muito instrutivo! Passarei a acompanhar o blog! :)
ResponderExcluirO autor deste blog é um dos melhores linguistas que conheço :-) Só um comentário (que, aliás, reforça a diversidade do PB): aqui no Sul o pessoal pronuncia 'mas' desse jeito mesmo (/mas/). Aqui, 'cais' não rima com 'capaz' :-)
ResponderExcluirThiago B.
obrigado, Thiago.
ExcluirAinda estou pensando naquela coisa da não deriva das vogais medias no guarani.
Quando eu tiver um tempinho, te falo.
abraço
Nota: as ideologias não desaparecem. Sempre deixam rastros.
ResponderExcluirHAUHAUHAUAHUAUAHAUAUHA CALMA PERA "(...)discussões recorrentes entre os linguisticas (...) pq eu tava lendo Ferreira Gullar (...)" UHAUIOVHSUSHUCHSDUHS FERREIRA GULLAR AHHHH MORRY
ResponderExcluirsry pelo reply-flood mas...FERREIRA GULLAR!!!!!!!!!!!!!!!!
Não entendi esse comentário seu Hailey porque eu quando li o post não vi essa conexão "porque" no comentário da pessoa. Ela disse que a discussão é recorrente entre linguistas, discussão essa que envolve o preconceito linguístico. E depois usou um exemplo de um texto (que por acaso era do Gullar) onde ele diz que a gramática é resultado da língua e não o contrário.
ResponderExcluirEnfim, acho que entendemos as coisas de maneiras diferentes.
Você ficaria surpreso se soubesse a quantidade de vezes que já indiquei esse seu texto. Já deve fazer mais de um ano que o li pela primeira vez e direto retorno, em geral buscando o link pra indicar ou então para rever o trecho do Marcos Bagno.
ResponderExcluir