terça-feira, 5 de setembro de 2017

A colônia e nós. Uma aventura transgênera pela Análise do Discurso

Hoje eu saquei a estratégia argumentativa da colônia. Os grandes nomes da academia usam a estratégia de deturpar, enviesar e invisibilizar o ponto de vista que eles não compartilham para enfraquecê-lo de maneira a parecer que sua argumentação é irresistível. É o problema da torre de marfim também, em que ELES olham para NÓS e nos explicam e categorizam, como se eles também não fizessem parte de alguma categoria. Como se ELES, os analistas, estivessem fora do discurso da verdade. E o pior é que ELES combatem NOSSAS maneiras de explicar o mundo alegando que NÓS, os sujeitos da análise, é que estamos impregnados pelo discurso da verdade. Dizer que algo não é verdadeiro também é uma afirmação que pertence a lógica da verdade. Então, quando algum analista nega o ponto de vista dos sujeitos da sua análise, ele está simplesmente impondo de maneira sutil a sua nova verdade, que tem o ar de ser muito mais limpinha, porque circula num espaço que a legitima, como é a academia. 
A análise do discurso faz isso com a Pragmática. Alguns analistas importantes recortam ideias da pragmática, enviesam o pensamento pragmático para afirmar que a Análise do Discurso é superior à Pragmática. 
Hoje, ouvi trechos de uma palestra que me fez cair o cu da bunda. A mãe da análise do discurso veio a público criticar o termo “cisgênero”, sob a alegação de que essas categorias não dão conta do detalhe (Daí, eu mesma fiquei me perguntando: qual categoria dá conta do detalhe?). Ela citou um trecho do texto da Leila Dumaresq “O cisgênero existe” e sequer mencionou a autoria. Foi logo tratando de destilar suas crítica sutis, sob uma retórica non-sense, rebuscada e opaca ao termo “cisgênero” ali debatido. Sorte que pudemos reconhecer a autora do texto e saber que alhos não são bugalhos, mas os demais que ali presenciavam o discurso acadêmico de lágrimas cis não poderiam imaginar a fonte daquele excerto. Justo a AD que tanto presa pela autoria. 
Sob o manto do prestígio e com uma voz que tem ecoado na análise do discurso desde sua fundação, a dita cuja caiu de paraquedas na discussão sobre gênero e veio querer sentar na janelinha. O que me pareceu foi que a pessoa tinha acabado de descobrir a palavra “cisgênero” e quisesse revolucionar o pensamento com uma “análise crítica”. Isso é injusto com todo acúmulo de conhecimento e debate e é muito mais injusto ainda não dar caso às vozes dos sujeitos, que por acaso também são analistas. Pessoas trans parecem que tem a sina de serem invisibilizadas aonde quer que queiram estar. Inclusive, quando conquistam espaços de prestígio. 

Mas o que me consola é que o tempo vai dar um jeito nisso. Eu acredito que o mundo dá voltas e a colônia logo logo não vai dar conta da gente. Dentro em breve os acadêmicos não poderão mais falar suas bostas em 4 paredes sem que sejam problematizados

Tupi-guarani uma ova!!



Eu sempre escuto um uso equivocado da palavra "TUPI-GUARANI".
O senso comum pensa que os povos de hoje ou os povos da época da invasão colonial falavam ou eram "tupis-guaranis". De certo modo sim, pois se trata da característica da família linguística. Mas, no sentido mais trivial, não. A língua tupi-guarani não existe, pode ter existido um proto-tupi-guarani (e talvez nem mesmo ela, porque isso tb é só teoria acadêmica. Talvez nem seja adequado falar em "família". Há teóricos que falam de ramos e subramos e etc etc.. Teorias acadêmicas). Mas partindo desse pressuposto, tupi-guarani não é uma língua específica falada hoje. Hoje o que os povos indígenas provenientes desse grupo falam é guarani, tembé, urubu-kaapor, sirionó, guarayo, kamayurá, tapirapé, etc... Hoje são um pouco mais de 30 as diferentes línguas que compõe a família tupi-guarani.
Tupi-guarani não é uma língua e nem uma etnia específica. É o nome de uma família (ramo, grupo) de diferentes línguas.
Pensar que todo e qualquer índio é um tupi-guarani é o resultado do olhar simplista e invisibilizador do protagonista branco.
Os/as índios/as somos muito diversos/as. E isso porque estou apenas mencionando o tupi-guarani. Imagine se pensarmos no tronco Tupi, em outros troncos como o macro-Jê, em tantos outros ramos e nas dezenas de famílias e línguas isoladas não classificáveis?